Escrevi este "relato" dias depois de ter chegado a Buenos Aires para missão de estudos do mestrado sanduíche na Argentina, em julho de 2010.Ele partiu da idéia de dar uma resposta aos amigos que me perguntavam :- E aí como foi de viagem? Talvez eu devesse apenas ter respondido: -Correu tudo bem, obrigada! Só que a história não foi bem assim...
Parte I: A Viagem.
"Buenos"... Para começar...
Dia 14 de junho, passagens em mãos, quase tudo pronto para o tão esperado dia 16! Ainda assim algumas coisinhas para arrumar, algum dinheiro para cambiar e muita expectativa!
Dia 16 de junho... "vamos que vamos", saímos de Pelotas/RS às 13h30min com destino a Porto Alegre onde pegaríamos o vôo para a Argentina as 20h35min. Pegaríamos? Sim. Pois, foi na hora de fazer o check in que começaram minhas "desventuras em série".
Ao conferir meu documento de identidade. A notícia!
- A senhora não poderá embarcar! E a resposta “mineirucha”:
-“Uai” como assim? “Capaz”!
- Bem... É que a identidade da senhora não foi aceita pela Policia Federal porque alguns dados estão praticamente ilegíveis.
O que não era bem verdade, de certo que meu documento expedido há dezesseis anos tinha lá suas manchinhas, e aquele "cortezinho básico" que fiz nas bordas do documento para que coubesse na carteira...Coisas que eu só faria a 16 anos atrás...
Então perguntei:- E a carteira de motorista? Não serve como documento de identificação?
-Não senhora, NÃO serve NÃO!
-"PQP” (isso eu não disse apenas, pensei)!
Bem... Como diz o ditado "para o que não tem remédio, remediado está", fui atrás do: - "O que faço agora"?
- A senhora poderá fazer um passaporte de emergência e TENTAR embarcar amanhã!
E lá fui eu com minhas bagagens...
Em resumo, fui à loja da empresa aérea trocar a passagem para o dia posterior, pois o passaporte só poderia ser feito "amanhã" e logo, mais uma noticia para essa "senhora" que aqui relata.
-Senhora, só temos vôo para o dia 19 às 20h30min!E mais uma vez a respondi utilizando aquela palavrinha gaúcha de impacto que eu agreguei ao meu vocabulário:
- "CAPAZ"! Não, não pode ser, de jeito nenhum, não posso perder essa viagem, e como todo bom mineiro... Despejei no pobre do atendente quase que toda minha história de vida e o aperto que passava naquele momento, falei do mestrado, da viagem, da bolsa, da responsabilidade assumida, dos prejuízos e “dalé” prosa!
Felizmente, o atendente um pouco comovido respondeu acendendo em mim uma sutil esperança de que tudo daria certo...
-Vou ver o que posso fazer para senhora, aguarde aqui um momento!
Minutos depois, lá veio o atendente, muito sério e formal com seu sotaque pernambucano. Ele me mostrou as possibilidades e a melhor delas, que seria a que tivesse o dia mais próximo e a taxa mais barata:
-A senhora pode pegar o vôo do dia "dizoito" as 00h30min e pagar “apenas” R$100,00 de taxa. Assim a senhora poderá embarcar amanhã mesmo... Meio confuso não é¿ Porque amanhã mesmo... Seria dia 17 e não 18 o que eu levei quase meia hora pra entender, até que rapazinho do atendimento, já impaciente com minha indecisão, disse:
-Senhora! Já são quase 19h00min, assim estamos no "limitiduprazudítroca" a senhora vai perder a passagem! Vai querer fazer a troca¿ É o que eu lhe aconselho!
Neste caso... Que seja feita a troca! E assim, lá fui eu, quer dizer, lá não fui eu, mas, troquei a passagem que ficou assim:
Vôo de Porto Alegre para Florianópolis dia 18 as 00h35min. Florianópolis?Sim, meus caros, eu teria de fazer um translado, o vôo chegaria a Florianópolis as 00h15min e de lá eu trocaria de avião para o vôo “Floripa” x Buenos Aires marcado para as 03h45min da madrugada! Pois é duas horas e meia de espera no aeroporto que me “antecipavam” a “saga” que me aguardava no dia seguinte.
Passagens em mãos, lá fui eu com minhas bagagens em busca de um táxi e de hotel. No taxi, mais uma vez reproduzi a história para o “pobre taxista” que ficou em silêncio enquanto eu mais uma vez relatava os acontecimentos acrescidos da parte do Aeroporto... Assim chegamos em frente ao único hotel que eu conhecia e tive a infeliz idéia de terminar minha história pro taxista tecendo o seguinte comentário:
- Agora só falta não ter vaga no hotel!
Imaginem... NÃO tinha!
Mas, tinha um hotel ao lado e nele a possibilidade de ter ao menos uma vaguinha pra mim, lá fui eu novamente, morrendo de medo de sair do taxi, pois, minha bagagem teve que ficar dentro do carro do taxista que eu tampouco conhecia. Pois, para chegar à recepção do hotel, eu teria de subir uma significativa escadaria e para completar o cenário, o hotel ficava perto da rodoviária em frente ao viaduto, que para quem conhece essa região de Porto Alegre, bem sabe, não é um lugar aconselhável de se transitar à noite.
Assim, fui olhando insistentemente para trás com receio de que o taxista fosse embora com minha bagagem o que felizmente não aconteceu e melhor ainda, tinha vaga!
No hotel, o quarto era bom, limpo, arejado e com internet! Tomei aquele banho bem quentinho, comi uma pizza de R$ 14,00! Daquelas de caixinha (de marca desconhecida) que pode ser feita no microondas, pedi ao recepcionista que me chamasse as 07:00 (do dia seguinte) pois, teria de ir até a Policia Federal para tirar meu passaporte de emergência.
À noite, depois de tudo preparado, bateu aquela pergunta: "E agora José"? E se eu não conseguir embarcar? E se eu for roubada no caminho? E se eu a documentação não ficar pronta no dia? E se eu perder o vôo? E se eu me perder o translado em “Floripa”? E se o vôo de “Floripa” atrasar e se eu perder o vôo pra Buenos Aires? E se quando eu conseguir embarcar... meu avião cair?
Em seguida, fui me deitar na companhia desses “doces pensamentos”. Recordo-me de ter olhado pela ultima vez no relógio já passavam das 03h00min da matina e logo em "seguida" o relógio despertou e o telefone tocou, hora de ir tirar o passaporte.
Na Policia Federal, departamento da Alfândega:
-A senhora deve preencher o formulário, naquele computador ali, pagar uma taxa de R$202,82 no banco, tirar uma foto 5x7 na loja ali ao lado e depois fazer o protocolo e voltar aqui, depois ir ali, e depois vir aqui, depois retornar por lá e depois...
Então, fui preencher o formulário, e mais uma surpresa!Ao consultar os dados do meu titulo de eleitor, na internet, deparei-me com uma frasezinha em vermelho escrito: "Situação do Título: CANCELADO"!
E neste momento eu, "já em alfa", fui ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e liguei para aquela pessoa que a gente sempre pensa quando está em apuros! Mãããããããeeeeee!
Do TSE consegui tirar a certidão, pois estava em dia com minhas obrigações eleitorais e voltei na Policia Federal para fazer o bendito cadastro. Nesse meio tempo, mais gastos com taxis que apesar de percorrerem os mesmos trechos cobravam sempre diferentes valores, enfim...
Fiz o cadastro, paguei a taxa, tirei a foto e depois:
- A senhora pode vir tirar seu passaporte a partir das 14 h.
-Não pode ser agora, ou antes?
-Não senhora.
Isso era aproximadamente 11h35min da manhã, assim segui para o hotel para retirar minha bagagem para não ter que pagar uma nova diária. Chegando ao hotel contei mais uma vez minha "novela" dessa vez para a recepcionista que sensibilizada, permitiu que eu ficasse no quarto com minhas bagagens até as 13h30min, assim pude tomar mais um "banhozinho" quente e tirar um cochilo de meia hora.
Saindo do hotel, peguei um taxi e contei mais uma vez minha "saga"... Bem, em direção a Policia Federal já com minhas bagagens fui buscar o bendito passaporte e mais uma vez, bagagens no táxi e o medo de que o taxista “se mandasse” com elas, mas, “fui na fé”...
Ao retirar o passaporte o cidadão “nada simpático” que me atendeu, me olhou, olhou meu passaporte e disse:
-Aguarde um momento que preciso verificar uma coisa! E dessa vez, nem usou a palavrinha... Senhora! O que me deixou sinceramente mais apreensiva.
Ao voltar ele disse: - Olha! O seu documento está errado! No documento seu sobrenome está escrito com "s", contudo, você assina com "z".
Pior que era verdade, o meu documento de identidade, bem como a carteira de motorista estavam com a grafia diferente da minha assinatura, por conta daquele "errinho básico de digitação" que é recorrente no Brasil. Claro que a responsabilidade de ter alterado e corrigido a documentação era minha, mas como era já era “costume” que meu nome: Déborah Coimbra Nuñez fosse escrito com "s", sem "h" entre outras "cositas más" e que, contudo, nunca havia me trazido problemas...
Eu realmente não imaginei que os teria, por que... No Brasil a gente "sempre dá um jeitinho", mas quando se trata de um país estrangeiro, não tem essa de jeitinho para brasileiro.
Minha resposta: - Olha, pode fazer do jeito que está no documento, realmente há um erro de digitação, mas eu não posso assinar meu nome errado não é¿
O senhor "muito simpático" disse: -Isso vai lhe trazer problemas, você pode chegar lá e será deportada! Vou fazer do jeito que está no documento e te aconselho que assim que tu voltares para o Brasil arrume sua documentação e ande com ela em dia!
Envergonhada e apreensiva, eu não disse nada. Dividia minha atenção às palavras do atendente com a preocupação com o taxista lá fora.
Passaporte em mãos um quase alívio, pois as palavras daquele "simpático senhor”:- Você vai ser deportada! Ferviam-me a mente.
Saí com meu passaporte em mãos e o taxista estava lá, me esperando na porta e pensei: - Agora sim, tudo começou a dar certo! Vamos embora!
Cheguei ao aeroporto eram quase as 16h, mas, só poderia fazer o check-in às 18:30, assim, fui lá com minhas bagagens procurar um lugar para almoçar. Almocei e fiquei "zamzando pelo aeroporto", comprei umas revistas, li, tentei acessar a internet, andei mais um pouquinho, fiz o check-in, procurei um lugar pra comer de novo, comi, andei mais um pouco e descobri que no aeroporto tinha cinema pensei ...Que maravilha!
Em resumo... Depois ir ao cinema, ainda faltavam duas horas e trinta para o meu vôo...
Às 00h00min estava finalmente no avião!Vôo com aproximadamente 30 minutos de turbulência, previamente anunciada pelo piloto o que apesar de ter ocasionado a “suspensão do serviço de bordo” (sem devolução de taxas é claro), não me tirou o sono! Quando abri os olhos já estávamos aterrissando em Florianópolis.
E lá... Duas horas e meia de espera, pensei... “Que bom que o avião não caiu, agora só falta mais um vôo e depois passar pela alfândega, estou quase! Que Deus me ajude e vamos embora!
-Senhores passageiros, estamos sobrevoando a cidade de Buenos Aires, preparem-se para a aterrissagem! E eu pensei... “Ai meu Deus, que ‘Buenos’...Urrrúúú”!
No desembarque, uma fila “enooooooooooorme”, tínhamos que entregar um "papelzinho" preenchido com alguns dados como: nome, documento, endereço em “BsAs”, motivo da viagem ... Mas, como eu "apaguei" durante o vôo, não havia pegado com o comissário de bordo o bendito papelzinho, assim, eu que era uma das primeiras da fila, tive que ir atrás do formulário e retornar para o final da fila.
Nesse momento, me lembrei do "Ton Hanks" no filme "O Terminal", mas para mim tudo correu mais depressa e em seguida mais um taxi, porém dessa vez ... "Tuve que hablar en español, eso lo hice sin muchos problemas porque yo compreendia todo que el chofer hablava ,pero ello, ello sí de pronto me dijo... - No és de acá no? Así seguimos hablando por más cuarenta minutos en el camino de mi casa"...
Ele ia me falando muitas coisas sobre Buenos Aires e sobre as diferenças lingüísticas e eu, eu mais uma vez, contei a historia da minha viagem, mas dessa vez, "hablando en español ( o quizás portuñol, que sé yo)"!
Por $ 148,00 pesos, llegué! Y lo más...Y lo más yo les contaré ( a vos) en otra oportunidad pues ahora, ahora estoy cansada, pues al escribir eso relato revivi toda mi trajetoria que por suposto me dejó muy cansada, pero también muy feliz, pues estoy acá hacen diez días y ya tengo muchas otras historias muy más interesantes y bien aventuradas que esta que terminé de contar a “vos”! A lo más... hasta pronto!